domingo, 18 de dezembro de 2011

II


Acordei com a luz do sol a bater-me nos olhos. Tinha-me esquecido de baixar os estores na noite anterior e agora estava a acarretar as consequências desse esquecimento. Não era que não gostasse do sol, porque gostava e sentia-me bem quando os primeiros raios de luz espreitavam pela janela, mas logo hoje, quando podia ficar a dormir até tarde é que eles me importunavam daquela maneira. Escondi a cabeça no meio da almofada e de esguelha olhei para o despertador: eram 8.20h da manhã. Queria dormir mais um pouco e ainda dei umas quantas voltas na cama, tentando encontrar posição, mas, talvez por culpa da rotina citadina e madrugadora a que estava habituada, não consegui voltar a cair no sono. Agarrei no telemóvel que estava por debaixo da almofada e deparei-me com uma mensagem não lida do meu pai.

De: Pai
“Maria, precisamos de falar. Quando acordares vem ter ao escritório, temos assuntos importantes a tratar. Beijo.”

- Oh, não! – Bati com força na cama e ouvi as molas do colchão a ressentirem-se. Afastei a almofada e deitei a cabeça no lençol frio, cobrindo-a com a almofada – Dorme!

Tentei incutir a mim própria o sono que na verdade não sentia. Mas isso nunca resultou comigo e acabei por me levantar, indo directamente para a banheira de imersão, tomar um banho relaxante, que eu esperava ser revitalizador. Quando saí do meu banho de meia hora, fui até ao armário, de onde tirei um vestido preto comprido informal, pois notei que corria uma brisa inquieta lá fora e não queria arriscar passar frio. Coloquei alguns acessórios simples e, depois de esticar o cabelo, coloquei o meu chapéu de ráfia oferecido pelo Liam. Escovei a Sasha um pouco à pressa e prendia-a na trela, saindo em seguida em direcção ao carro.

**

Subi as escadas pé-ante-pé, mexendo no telemóvel pois tinha recebido mensagens de algumas amigas de profissão a felicitar-me. Sasha seguia atrás de mim, também ela muito quietinha. Vozes masculinas que me eram estranhas fizeram-me parar e manter a minha atenção naquela conversa que incidia sobre mim. Curioso!

- Tu sabes quem ela é, cabelos castanhos compridos, ondulados… Não estás a ver? Tem uns olhos com um corte exótico, castanhos. É portuguesa… Epá, não acredito que não sabes. Chama-se Maria, Maria Adams. Procura no Google que encontras logo – Não consegui perceber com quem ele estava a falar pois nunca ouvi qualquer resposta vinda do suposto ouvinte. Mas aquela conversa até me estava a deixar divertida. Subi as escadas, agora fazendo mais barulho propositadamente, para que ele soubesse que alguém se aproximava, no entanto, ele não parou – É magrinha, quase esquelética. Já viste? Sim, sim! Essa mesmo.

À medida que me aproximava mais, reparei que não haviam duas pessoas, mas sim que esse rapaz estava a falar ao telemóvel. “Magrinha, quase esquelética?”. Esse comentário tinha-me deixado um pouco chocada, abalando por completo o meu divertimento, pois não me considerava magra, tendo em conta que apenas tinha 1,75m e precisava de colmatar a minha estatura mediana com um pouco menos de peso do que aquelas que mediam mais de 1,80m.
Continuei a andar, desejando que aquela conversa acabasse rapidamente, pois iria passar mesmo ao lado dele. Ele estava de costas e não pude perceber de quem se tratava, apesar de saber que nunca o tinha visto por ali. Estanquei durante uns minutos, enquanto o ouvia a falar sobre mim e tentei arranjar uma forma de não me sentir demasiado constrangida ao passar ao lado dele. Tinha, então, duas hipóteses: ou passava e fingia não me ter apercebido, de forma a evitar contactos constrangedores ou voltava para trás e sentava-me no piso inferior, à espera que aquela conversa acabasse. Claro que, cobarde como eu era, comecei a descer as escadas mas rapidamente voltei para trás quando me apercebi que ele já não estava a falar ao telemóvel. Subi-as um pouco a medo, com um nervosismo crescente dentro de mim – eu detestava situações parecidas! – mas dei graças a Deus por ele já não estar ali e olhando para um lado e para o outro para me certificar, percebi que dele nem sinal de vista.
Acenei a Martha na recepção e entrei de rompante no escritório de Hugh, sempre seguida por Sasha, obediente como sempre.

- Bom dia! – Olhei para Hugh e para o meu pai e foi com surpresa que me deparei com uma terceira pessoa na sala. Era um rapaz que não devia ser muito mais velho que eu mas era um pouco mais alto. Tinha cabelo castanho rebelde e uns olhos de um azul que se notava a léguas de distância. Ostentava uma barba que o fazia parecer muito mais velho do que era na realidade mas que até lhe ficava bem e trazia vestido uma roupa informal – calças de ganga, camisa de um tom de ganga mais claro e uma gravata preta de corte fino. Pude notar pela forma descontraída como estava encostado à parede que o seu corpo era muito trabalhado, mas sem cair no exagero. E todo o conjunto que estava diante dos meus olhos, fez-me sorrir por dentro. Era bom poder lavar a vista de vez em quando e devo confessar que ele era o típico homem que me chamava a atenção – Está tudo bem? – Soltei Sasha, libertando-a para que ela pudesse estar à vontade.

- Filha, quero apresentar-te o John. – O meu pai apontou para ele, encostado à parede e mostrando-se alheio ao que se passava à sua volta – Era por causa dele que queria falar contigo.

Ele desencostou-se e veio na minha direcção, dando-me um aperto de mão e esboçando um sorriso tímido e desleixado. Mas eu não lhe podia ter achado mais graça.

- Ok… - Olhei para o meu pai como se tivesse um enorme ponto de interrogação na testa e espera-se ansiosamente por uma resposta em relação àquilo que se estava a passar – O que é que se passa?

O rapaz voltou a encostar-se na parede, tentando abstrair-se um pouco da situação, enquanto o meu pai e Hugh sussurravam entre si qual a melhor maneira de me expor a situação. Quando finalmente me encararam, foi Hugh que começou:

- Menina, eu não lhe disse nada porque não esperava ter de sair tão cedo, mas a verdade é que recebi uma óptima proposta de trabalho em Londres e, embora nem sequer tenha considerado no inicio, depois de uma conversa com a minha mulher, ambos achámos que o melhor seria mudarmo-nos para lá, tendo em conta que é um ambiente mais saudável para a Mia crescer e é onde está a maior parte da família de ambos – Fiquei um pouco confusa à medida que Hugh falava, pois recusava-me a acreditar que depois de três anos de trabalho em conjunto ele estava a renunciar ao cargo – Espero que compreenda. Foi uma decisão muito difícil de tomar.

Ele olhou para mim, expectante, mas eu demorei uns instantes a processar toda aquela informação, a interiorizar que estava a perder o meu manager e que seria extremamente difícil encontrar um tão bom quanto eu naquela altura, ainda para mais, quando eu mais precisava. Mas então, o que estava John ali a fazer? O meu olhar saltou de Hugh para ele, que me fitava sem qualquer expressão, e depois para o meu pai.

- Então e agora? – Perguntei e num acto involuntário encolhi os ombros, demonstrando o meu descontentamento.

- Agora… - O meu pai apressou-se a falar – Eu vou tentar tomar conta das coisas até conseguirmos arranjar um manager novo.

“Ok, mas então e John?”. O meu olhar virou-se para ele e sem ser preciso dizer nada, o meu pai respondeu à minha pergunta.

- O John foi contratado por mim para ser teu…

- Pai! – Sabia que ele detestava ser interrompido mas desta vez não me consegui conter – Tu não o contrataste para ser meu segurança, pois não? – Sublinhei o “pois não?”, para deixar desde já bem claro que era completamente contra isso.

- Sim, contratei!

Soltei um som de choque, como reacção àquilo que considerava ser um autêntico disparate.

- Pai! Eu não preciso de seguranças. Nunca precisei!

- Nunca precisaste mas agora os tempos mudaram! – E o tom da sua voz começou a aumentar – Tu és uma das melhores modelos da actualidade, oficialmente. Nem penses que te vou deixar andar aí sem ninguém que olhe por ti. E tu ainda és menor, Maria, lembra-te disso.

Olhei para Hugh e John alternadamente e tentei encontrar argumentos que ripostassem a teoria absurda do meu pai, mas tal não foi possível, porque mesmo que tivesse razão era inútil tentar prova-la a uma pessoa tão dogmática como ele. Abanei a cabeça em sinal de negação e sentei-me no sofá ao lado de Sasha, cruzando os braços junto ao peito.

- O John foi escolhido depois de uma selecção rigorosa. Ele é novo, inexperiente mas tenho boas expectativas em relação a ele – Desviou o seu olhar do meu e encarou John – Sei que te protegerá seja qual for a situação.

“Olha que lindo!”, pensei, ao constatar que agora tinha de andar sempre com ele atrás para onde quer que fosse.

- O John ficará a morar no mesmo prédio que tu, no apartamento de cima.

- O QUÊ? – Não consegui esconder a minha incredulidade, que foi mostrada através de um riso irónico – Só podes estar a brincar pai.

Ele fitou-me com um olhar repreensivo e fulminante e acabei por me remeter ao silêncio, cruzando ainda mais os braços na tentativa de que a minha birra desse algum resultado. Olhei para John, de cabeça baixa, e imaginei como se estaria a sentir naquele momento, depois da minha renúncia aos seus serviços. E acabei por me sentir mal por estar a ser tão indelicada para com ele, tendo em conta que não o conhecia e não podia prever o que se avizinhava.

- Ah e esta noite – O meu pai voltou a falar – Vais à gala dos Fashion Awards. Já falei com a Olivia e ela vai entregar-te os vestidos mais logo à tarde – Preparava-me para falar mas ele continuou – Ah! E amanhã tens uma entrevista com a…

- “Marie Claire” – Hugh saiu em seu auxílio ao perceber que ele não se lembrava do nome da revista.

- Isso! Se faz favor, marca isso na tua agenda.

Limitei-me a anuir, acolhendo Sasha nos meus braços e afagando-lhe o pêlo sedoso.
**

Diante de mim encontravam-se três bonitos de gala, escolhidos a pormenor conforme os meus gostos e requisitos e que Olivia já tão bem conhecia. Desde que me lembrava que escolhia linhas e cortes simples e românticas, discretos mas elegantes. Não gostava de vestidos espampanantes e sedutores, demasiado justos e que evidenciassem as curvas da mulher em excesso. Essa não era eu e sempre me mantive fiel aos meus princípios. 

- Este é Elie Saab – Ela apontou para a primeira manequim de plástico, que ostentava um vestido longo vaporoso azul-turquesa, com aplicações em chiffon – Este é Valentino – A segunda manequim trazia vestido um vestido longo e também ele vaporoso, também ele feito em chiffon com apliques florais em renda. Era preto, só por isso mais clássico e não tinha alças, o que me fez gostar imediatamente dele – E por fim, Marchesa! – Pela forma entusiasmada como ela pronunciou o nome pude perceber que aquele era o seu preferido. E devo confessar que me encantou assim que o vi. Era curto, em chiffon branco, sustentado por safiras incrustadas em fios compostos por cristais Swarovski que formavam como que uma camisa invisível de manga curta. A combinar com o vestido, Olivia mostrou-me uma bolsa também toda ela ostentada com safiras, oferecida pela própria Georgina Chapman, criadora da marca.

Não demorei muito tempo a pensar. Apesar de serem todos lindíssimos, elegantes e de extremo bom gosto, a minha preferência recaiu logo para o último, o vestido de safiras de Marchesa. 

 **

O relógio marcava as 22h45, quando cheguei, juntamente com John ao Institute Gala, no centro de Nova Iorque e onde se ia realizar a entrega dos prémios. Durante toda a viagem desde o escritório até ali, ele não tinha aberto a boca. Aliás, desde que o vira, ainda não tinha ouvido sequer a voz dele. Aquele incómodo que ele demonstrava em relação a mim deixava-me constrangida, não que eu esperasse ser amiga dele, mas ao menos esperava ter mais informações sobre ele, as informações básicas, pelo menos. Mas a verdade é que não tinha coragem de lhe dirigir a palavra, tendo em conta que, sempre que olhava para ele, ele mantinha aquela expressão intransponível e séria, que me chegava a dar medo.
Ele abriu-me a porta de trás do jipe, o carro do meu pai que ele me cedia sempre que ia para eventos do género, e seguiu-me sempre de perto, mesmo quando passei pelos fotógrafos e pousei para as fotografias. Depois de quase uma hora de entrevistas aqui e ali, de cumprimentos entre amigos e conhecidos, lá consegui descansar no cadeirão confortável reservado para mim no grande salão de eventos. John, para minha grande surpresa, teve direito de ficar sentado do meu lado, ao contrário do que estava habituada a ver, pois normalmente os acompanhantes ou seguranças dos convidados, ficavam sentados à parte.
O espectáculo de entrega de prémios decorreu sem grande surpresa, pois já se esperava quem seriam os vencedores de todas as categorias. Estava um pouco aborrecida com tudo aquilo porque, embora fosse minha obrigação, era algo que não me entusiasmava e que eu dispensaria de bom grado caso pudesse. Olhei algumas vezes para John, à espera que, pela primeira vez, ele me olhasse nos olhos ou simplesmente sorrisse. Mas ele mantinha-se firme e hirto no cadeirão, olhando em frente e estava tão tenso que até me cheguei a sentir mal por fazê-lo passar por tamanho desconforto. Deu para ver que ele era duzentos por cento empenhado no seu trabalho e a ética sempre me tinha cativado, mas esta ética estava a ser levada ao limite.
Acabei por não ganhar o prémio revelação. A verdade é que me senti frustrada por isso, tendo em conta as recentes notícias e no fundo, sentia-me merecedora daquele prémio, apesar de não o ter demonstrado.
Acabada a cerimónia, todos estavam convidados para a after party organizada pela revista Glamour. Não queria ir, mas o meu pai tinha-me alertado que era importante que fosse e que convivesse mesmo que não ganhasse o prémio pois o contrário poderia ser interpretado como mau perder. E nós sabemos como são os jornalistas dos dias de hoje!
John seguia atrás de mim mas a uma distância considerável, sempre atento a qualquer movimento suspeito – não que fosse haver algum, mas o meu pai tinha dado ordens específicas para ele me levar a casa no final da noite. Avistei, encostado ao bar, Jon Kortajarena, um grande amigo e também ele modelo, dos mais conhecidos internacionalmente. Conhecia-o de uma produção que fizemos juntos, há cerca de cinco meses atrás para a revista W! e desde então que falávamos algumas vezes, pois ele é uma pessoa incrivelmente acessível e bem educada.

- Olá, Jon!

Aproximei-me dele com um grande sorriso e dei-lhe um abraço leve, seguido de um beijo na face. Ele fez sinal ao empregado de balcão e pediu-lhe um whisky para mim.

- Oh, não quero nada disso! – Apressei-me a recusar a bebida, que detestava, mas ele desvalorizou a minha afirmação.

- Oh, deixa-te de coisas! - Ele olhou-me de alto a baixo e depois sorriu, divertido – Estás linda, miúda. Andas a esmerar-te.

Este era, sem tirar nem pôr, o Jon que me tinha sido dado a conhecer. Divertido, brincalhão, sempre com um sorriso na cara e muito cavalheiro, sempre cheio de elogios e piropos mas sem nunca cair no vulgar. Havia qualquer coisa nele muito lisonjeira.

- Tem de ser, não é? – O empregado colocou a bebida à minha frente e eu dei um gole rápido no whisky, para não parecer rude e mal agradecida. Mas a verdade é que whisky, para mim, era a pior bebida do Mundo. Olhei para John, encostado à parede do outro lado da sala e, pela primeira vez, os nossos olhares cruzaram-se. Foi um momento constrangedor, que me fez baixar a cabeça assim que senti aquela vibração, aquele contacto forte que ele transmitiu. Não sei porquê, mas um nervosismo crescente apoderou-se de mim e subitamente, não consegui arranjar posição e as minhas pernas manifestaram isso. Jon reparou mas acredito que se as pessoas na sala estivessem com atenção, teriam reparado igualmente.

- Quem é aquele? – Ele fez um movimento com a cabeça que apontou para John.

- É o meu segurança particular… - As palavras “segurança particular” saíram-me com um desdém inesperado e fizeram-me revirar os olhos – Coisas do meu pai!

- Um segurança muito novo, ahn? – A forma insinuativa com que ele formulou aquela constatação fez-me corar. Ele estava a perceber coisas que não eram nem um pouco verdadeiras.

- Não, não, nada disso Jon! – Abanei a cabeça, sorrindo envergonhada – Não! Ele é meu segurança desde hoje de manhã. Ainda nem sequer falei com ele, vê lá.

- Devias… É importante ter uma boa relação com as pessoas à nossa volta e com quem contactamos diariamente – Ele alertou-me e isso fez-me pensar. Ele tinha a sua razão e como era óbvio, eu não queria ter um segurança que se sentisse incomodado com a minha presença, que nem sequer falasse comigo ou me olhasse. Estava habituada a ter uma boa relação com as pessoas com quem trabalhava e não queria que ele fosse excepção.

- Pois, tens razão…

Fiquei durante algum tempo à conversa com ele: falámos sobre as nossas carreiras, os nossos futuros projectos, sobre as férias e sobre casos amorosos – que no meu caso eram nulos, apesar de haver revistas que me atribuíam relações com pessoas que eu nunca tinha visto na minha vida. Acabei por me despedir de Jon quando olhei para o relógio e constatei que já eram quase duas horas da madrugada, deixando-o ao balcão juntamente com o meu copo de whisky quase cheio.
**

John fez questão de ligar um pouco o ar condicionado quente, pois, apesar de estarmos em Agosto, as temperaturas de final de mês já estavam mais amenas e húmidas, numa corrida acelerada para a chegada do Outono, nos finais do mês seguinte. Ao contrário do que aconteceu na ida para a cerimónia, desta vez sentei-me no banco da frente, ao lado dele, que não gostou muito da ideia, mas também não abriu a boca para contesta-la. Liguei a rádio no meu posto preferido, evitando assim o silêncio constrangedor de quase meia hora de viagem até casa, mas mesmo assim, a tensão teimava em permanecer entre nós. Nervosa, voltei a cair na tentação de roer as unhas e, olhando pela janela e abstraindo-me do momento, vendo os prédios a passar, procurei as unhas maiores e entreguei-me ao vício.

- O seu pai disse que não queria que roesse as unhas!

A sua voz saiu de surpresa, deixando-me estática quase com a cabeça colada no vidro. Tudo o que me apetecia fazer era mostrar o meu entusiasmo e tudo o que ocorreu foi: “Uau, tu falas!”. Mas depois, e deixando a razão sobrepor-se à minha verdadeira vontade e ao meu instinto, mentalizei-me de que essa observação poderia servia ainda mais para aumentar o desconforto entre nós. E como a minha mãe dizia, tão sábia no conhecimento das suas palavras: “Quando algo não está bem, fixa-te nas coisas boas do momento”, foi a voz dele, timidamente rouca e calorosa que preencheu o meu pensamento. E, subitamente, associei-a à voz que tinha ouvido de manhã nas escadas, aquela voz que pronunciou o meu nome associado a “…magra, quase esquelética” e logo, o que eu achava ser bom e extremamente sexy, desvaneceu-se, dando lugar a um pensamento de vaidade e orgulho, acima de tudo o resto. E esse pensamento fez-me ignorar o seu comentário e remeter-me ao silêncio, como se ele nunca tivesse sido quebrado.

1 comentário:

  1. Estou a adorar!
    Tenho pena que tenhas terminado com a outra, mas Acho que vou gostar muito desta história.
    Escreves lindamente, querida! adoro
    Estou ansiosa por ver o resto, esse John hum?
    Beijinho
    Ana Sousa

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